Atitude hesitante de Biden em debate gera pânico no Partido Democrata

Antes do debate, Donald Trump fez comentários sobre o tempo de preparação que o presidente Joe Biden tomou ao se retirar por quase uma semana em Camp David. Ele disse que o presidente estaria “dormindo”, ao questionar a capacidade física do democrata de resistir aos 90 minutos de discussão.

Descansado ou não, o atual presidente, de 81 anos, se dirigiu ao púlpito nos estúdios da CNN, em Atlanta, com o andar pausado e sem cumprimentar o adversário, de 78. Com a voz rouca e a fala arrastada, ele tentou defender os avanços promovidos na economia, apontar Trump como responsável pelos retrocessos em relação ao direito ao aborto e justificar o envio de recursos para ajudar a Ucrânia e Israel nas guerras em curso.

O presidente atacou Trump com linhas claramente ensaiadas, ao tentar lembrar aos milhões de telespectadores que o republicano seria o primeiro condenado a ocupar a Casa Branca.

Nada disso foi suficiente para disfarçar o que foi ficando cada vez mais claro aos telespectadores: a idade avançada de Biden é um problema real e que carece de uma estratégia concreta para a corrida presidencial.

De acordo com o comentarista da CNN John King, suas fontes dentro do Partido Democrata começam a admitir que será preciso encontrar uma solução. King afirmou que, em quase 40 anos cobrindo eleições, nunca viu aliados buscarem uma alternativa frente à performance de um presidente em um debate.

Donald Trump, por sua vez, estava provocador como de costume. O ex-presidente, um veterano de comícios e reality shows, não precisou fazer muito para sair vitorioso nesse primeiro debate da corrida pela Casa Branca. O titubeante Joe Biden teve dificuldade para conter a ofensiva de Donald Trump enquanto os dois trocavam insultos pessoais no acalorado confronto.

“É uma vergonha o que aconteceu com nosso país nos últimos quatro anos”, disse Trump. “Eu sou amigo de muitas pessoas. Elas não podem acreditar no que aconteceu com os Estados Unidos da América. Nós não somos mais respeitados.”

Biden tentou revidar. Em um dos ataques mais pessoais, ele citou relatos de que Trump descreveu soldados que morreram no desembarque na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial, como “trouxas”. Então, o democrata mencionou seu próprio filho Beau, que serviu no Iraque e mais tarde morreu de câncer.

“Meu filho não era um perdedor, não era um trouxa. Você é o trouxa. Você é o perdedor”, acusou Biden. Trump negou as declarações e repetidamente acusou Biden de não ser coerente.

“Eu realmente não sei o que ele disse no fim daquela frase. Acho que ele também não sabe o que disse”, ironizou o magnata, em outro momento.

O republicano também fez declarações polêmicas sobre a invasão ao Capitólio, reafirmando que se tratavam de pessoas agindo pacífica e patrioticamente, e responsabilizando a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi pelos incidentes de violência que levaram à morte de cinco pessoas.

O candidato conseguiu desviar o foco de suas falhas e colocar os holofotes sobre o adversário. Nem mesmo a condenação por 34 crimes na Corte de Manhattan e os demais processos que Trump responde na Justiça foram trazidos ao palco do confronto com força necessária para abalar o magnata.

Os próximos dias devem ser decisivos e podem mudar o curso da corrida eleitoral. O Partido Democrata terá de agir rápido, já que a Convenção Nacional, evento que culmina com o anúncio do candidato oficial à presidência, ocorre em meados de agosto.

Até lá, será preciso trabalhar na reconstrução da imagem de Biden como um candidato viável para o pleito de novembro –, ou, em um movimento radical, pensar em uma opção para substitui-lo. Kate Bedingfield, ex-diretora de comunicações de Biden, reconheceu que “foi uma performance de debate realmente decepcionante” do presidente.

“Não acho que haja outra maneira de encarar isso”, disse ela à CNN, após o debate.

Alguns eleitores democratas também expressaram preocupação sobre a performance de Biden. Em um evento para acompanhar o debate em San Francisco, Hazel Reitz disse que ainda votaria em Biden, mas acrescentou: “Eu não consigo entender uma palavra do que ele diz. Não é triste?”

Julian Zelizer, historiador da Universidade de Princeton, afirmou que os apoiadores do presidente estão “extremamente preocupados”. “Biden alimentou a percepção básica que continua a pairar sobre ele”, afirmou.

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