Uma pesquisa divulgada ontem (27) na revista “Nature” revelou que, embora a rotação da Terra geralmente esteja aumentando, o derretimento do gelo na Groenlândia e na Antártida pode contrabalançar esse aumento, afetando assim a maneira como medimos o tempo.
Essa descoberta tem implicações significativas para a forma como cronometramos eventos atualmente. O horário oficial internacional é determinado por uma rede de relógios atômicos extremamente precisos. No entanto, por razões históricas e culturais, ainda consideramos a rotação da Terra.
Devido às variações na velocidade de rotação da Terra, a duração de um dia raramente corresponde exatamente a 24 horas, o que pode resultar em discrepâncias entre o tempo medido pelos relógios e o tempo real da Terra. Para corrigir essa disparidade, é utilizado o chamado “segundo intercalar”, que envolve a adição de um segundo ao horário padrão oficial, o UTC (Tempo Universal Coordenado).
Até recentemente, a taxa de rotação da Terra estava sendo influenciada por correntes no núcleo líquido do planeta, que têm acelerado a rotação da crosta externa desde a década de 1970. Isso resultou em uma redução na necessidade de segundos intercalares adicionais e até mesmo na possibilidade de removê-los do UTC, uma ocorrência sem precedentes.
No entanto, uma análise recente sugere que esse ajuste pode ser adiado devido às mudanças climáticas. Dados de satélites que monitoram a gravidade da Terra indicam que, desde os anos 1990, o planeta está se tornando menos esférico e mais achatado devido ao derretimento do gelo polar, o que afeta a distribuição de água em direção ao Equador e longe dos polos.
Esse deslocamento da água afeta a rotação da Terra, e sem o efeito do derretimento do gelo, um segundo intercalar negativo seria necessário três anos antes do previsto atualmente.
Os segundos intercalares representam um desafio significativo para a tecnologia, pois podem levar a falhas graves em sistemas de computação. Um segundo intercalar negativo, algo sem precedentes, poderia ter consequências ainda mais sérias. No entanto, permanecem incertezas sobre quando isso será necessário, já que os cálculos dependem da aceleração da Terra e da imprevisibilidade da atividade no núcleo interno do planeta, conforme explicado por Christian Bizouard, astrogeofísico no Serviço Internacional de Rotação da Terra e Sistemas de Referência em Paris, ao site da Nature.
Fonte: Ecoa